segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Vê se tem Kung-Fu no outro canal.

Por conta da queda da bolsa de Hong Kong, a pesca predatória do salmão e a possível saída da Inglaterra do bloco europeu, eu fiquei uns dias sem minha tevê via satélite. 

E devo confessar: foram dias tenebrosos.

Não estou exagerando. Em nada. 


Primeiramente, quando há criança em casa é preciso algo que a entretenha. Isso é regra básica para qualquer casa que tenha filhos (ou caso você, leitor, queira ter; fica a dica). E um Discovery Kids ou um Gloob quase sempre cumprem seu papel. 

Mas a questão principal não é nem tanto essa. A tevê digital que muito ouvimos falar é uma porcaria sem tamanho. Já demoraram horrores para implementar esse sistema aqui no país e parece que nem começaram direito. Isso que nem vou citar os "canais regionais" que inventaram anos atrás. Que trata-se te ter uma programação voltada para uma determinada região, já que muitas cidades estão longe dos grandes centros e capitais. Ok, pode ser até uma boa. Mas na maioria, os programas tem poucos recursos, são ruins, chatos, quando o horário não é ocupado por igrejas ou canais de venda (que se for analisar, dá no mesmo). 

Já era para a tevê digital estar adiantada, mas não é o que parece. Estão fazendo campanhas e mais campanhas na tevê e internet. Já tivemos cidades com o sinal analógico cortado e só tem o digital. Por conta da falta da minha tevê via satélite, coloquei uma antena digital. Confesso que a imagem é boa, muito boa. Melhor até que alguns canais da via satélite, mas quando chove se comporta igual, o sinal oscila e cai. Mas temos que conviver com isso. Quando programei os canais, aparecem incríveis três (!) canais.. isso mesmo, amigo ou amiga... Três canais... E os mais populares (!!!). Em uma outra tentativa apareceram mais quatro canais, até dei um pulo de alegria. Mas eram canais da TV Senado, Câmara, e da Câmara da minha cidade. 

Bom, como diz aquele famoso ditado: "Se não tem tu, vai tu mesmo", eu segui firme e forte no propósito de assistir televisão. 

Sinceridade? Não dá. Sério. Como é possível uma programação tão porca como as que temos? Tão medíocre. Tão nivelada por baixo? Salvo raros (raríssimos) casos temo algo realmente de bom gostou ou útil. Fora isso, na sua grande maioria nada presta. É totalmente descartável. Passados cinco minutos você não sabe mais o que assistiu. 

São programas que passam horas falando de nada, outros que focam em falar de pessoas famosas - muitos deles fúteis - que não irá te ajudar em absolutamente nada. Conflitos armados com famílias pagas para que possam se desentenderem em pleno programa causando furor da plateia ávida por uma confusão. 

Blocos de quarenta, sessenta minutos mostrando a vida de alguém que você nunca viu, não sabe quem é, e vai esquecer assim que o programa terminar. Caridades e mais caridades com sorrisos falsos como se fosse algo sem nenhum interesse. 

Programas jornalísticos que mais desinformam do que informam. Formadores de opinião que foram cada vez mais pessoas sem opinião. Que sentem-se bem vendo a desgraça, como se fosse uma droga, algo que precisa estar lá, não pode faltar. Me faz lembrar aquela cena de Laranja Mecânica, do cara amarrado na cadeira com os olhos abertos vendo telas e mais telas de desgraça. 

Mas ai você deve estar perguntando para mim: "Mas então a sua tevê via satélite ou uma a cabo é a salvação da lavoura?" Não, meu caro, pois, nela contém esses mesmo canal. Mas há um diferencial: alternativas. Temos o controle, podemos procurar algo que nos agrede, que nos informe, que nos deixe bem. Há opções para todos os tamanhos e tipos. Mas eu pergunto algo agora: "Por que não mudamos? Por que mantemos os mesmos hábitos de poluir nossa mente com essas atrações de nível totalmente duvidoso?". Seria o famoso "Panis et Circences"? Nós precisamos desse pão e circo em nossas veias para que possamos seguir em frente? Por que algumas pessoas temem em conhecer o desconhecido? Dar chance para algo novo, diferente, que faça-nos pensar. É melhor mandar a velha opinião formada sobre tudo? 

Se possuímos algo bom é a capacidade de questionamento. O que seria da humanidade se não possuíssemos essa capacidade? Mas muitos suprimem essa capacidade em troca de um conforto. De não ter que questionar e pensar, e assim, não correr o risco de ficar frustrado. É muito mais fácil comer comida congelada do que comprar os ingredientes e fazer a refeição. Receber tudo mastigado, de bom grado, já com os rótulos de certo e errado é o que todos querem. E com isso a caixa se fecha, e continuamos pensando dentro dela. Até o dia que jogam essa caixa fora. Simplesmente descartada como lixo. Pois, é assim que nos tratam. Então, sendo assim, não teríamos destino melhor. 


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