quinta-feira, 28 de maio de 2015

O que estamos fazendo com nossas crianças?

Essa semana o segundo menor envolvido na morte do médico Jaime Gold, esfaqueado enquanto tinha sua bicicleta roubada na Lagoa no Rio de Janeiro, se entrou à polícia. No momento que ele foi até a delegacia estava acompanhado da mãe, da irmã e de um advogado. Segundo consta, ele estava cumprindo quarenta e cinco dias de uma pena de serviços sociais por ter cometido outros crimes. Mas abandonou a pena. Ele também já tinha cometido outros crimes com o primeiro menor preso pelo assassinato do médico. 

A cada dia é uma nova notícia, um novo vídeo envolvendo alguma criança ou adolescente. São desrespeito com professores, roubos, drogas, assassinatos. Onde vamos parar desse jeito? O que estamos fazendo com nossas crianças? Ou melhor. O que NÃO estamos fazendo com elas? Em qual pontos erramos para chegar no nível que está?


Qual é o futuro dessas crianças?


Não sou profissional da área, mas acredito que muita coisa vem de casa. Como dizem: "a educação vem de berço". E eu acho essa uma grande verdade. Com o passar dos tempos tudo foi ficando cheio de regras, cheio dos "disso não pode", "isso não é permitido" e por ai vai. Quando eu era criança, recebia palmadas, castigos, broncas, e muito mais. E hoje estou aqui, com 37 anos e uma família. Respeito os mais velhos, tenho meu caráter, sou uma pessoa honesta. Tenho meus pontos de vista e ideologias diferentes de algumas pessoas, até mesmo dos meus pais. Mas por conta do que eu aprendi ou quis aprender. Mas não sou uma pessoa má ou desonesta. Tudo que fiz de errado quando criança ou adolescente recebi uma punição, seja ela branda ou mais severa. Mas hoje não pode, hoje é agressão, hoje as crianças podem ficar traumatizadas. 

Realmente estamos criando uma geração de bundas-moles. É algo que me deixa um pouco revoltado. Vemos alunos de 10, 12, 14 anos, apontando o dedo para professores, desafiando, até mesmo batendo. Eu tenho amigas e parentes que são professoras e já me relataram essas coisas. Isso não está apenas nos telejornais. Está em todo lugar. E qual futuro uma pessoa assim terá? Não respeitam nada nem ninguém. Alguns só respeitam bandidos. Respeitam aqueles que traficam, roubam, matam, mas que distribuem cestas básicas ou fazem churrascos na comunidade. Esses sim são respeitados e admirados. E os pais? E os professores? Ficam que qual situação?



Lembro quando minha mãe sempre batia na tecla de respeitar os mais velhos, e respeitar a hierarquia. E eu faço isso até hoje. Das poucas vezes que fui para a diretoria, que minha mãe foi chamada na escola eu sentia um misto de medo e vergonha, pois sabia que ela não iria me defender se eu estivesse errado, e quando chegasse em casa eu seria punido também. Mas ela não media esforços para me defender se eu estivesse correto. Tenho certeza absoluta que se um dia eu viesse a cometer qual crime que fosse, ela seria a primeira a me denunciar. E fazer com que eu pagasse pelo meu erro. 

Mas hoje não temos isso. Hoje vemos pais que passam a mão na cabeça dos seus filhos para tudo. Os cobrem de presentes para compensar a falta em casa. Deixam fazer qualquer coisa para não se sentires os "estranhos da turma". E nisso a juventude vai se perdendo. E se perdendo. 



Nos últimos meses tivemos discussões sobre a "Maioridade Penal". Vimos a turma pró e a turma contra defendendo com unhas e dentes suas opiniões. Era discussões intermináveis. Eu, particularmente, sou a favor. Mas tenho pleno conhecimento que algo assim seria impossível no Brasil de hoje. Não adianta nada diminuir a idade de uma pessoa responder criminalmente pelos seus atos e não ter onde colocá-los. As cadeias estão superlotadas. A Fundação CASA em nada auxilia esses adolescentes. Vai ficar o famoso "6 por meia dúzia". Isso se não piorar, já que se alguns deles forem enviados para as cadeias que temos aqui vão sair com diplomas de bandidos, assinados e registrados. 

O mundo do crime gera desejo;  o dinheiro fácil, a ostentação, o poder. 


Mandar um adolescente de 16 anos para uma prisão com outros bandidos mais 'experientes' é burrice. Não adianta votar em algo só para agradar a população. Precisaria de um planejamento, precisaria ter o que fazer com esses adolescentes. Ocupá-los com algo realmente útil. Sabemos que as políticas públicas não abrangem todos os cantos das cidades. Há cidades dentro do estado de São Paulo que são maiores que muitas cidades do interior, e elas não possuem uma biblioteca, um centro esportivo, uma praça, um cinema, nada. A maioria das escolas são meio período. E o que fazem os jovens e adolescentes no outro período restante? Ainda mais se os pais trabalharem o dia todo?


Não é algo fácil. Não é algo que possa ser feito do dia para a noite. Mas do jeito que está a tendência é piorar. A cada dia mais crianças e adolescentes são recrutados para o crime. São adotados por traficantes. De nada vale um bolsa isso ou bolsa aquilo se o intuito não é o de formar. Não adianta ganhar dinheiro por filho, se esses filhos não estudam, se eles não aprendem.


Nossos governantes não se importam com a educação, já que assim eles teriam uma população pensante. Eles se importam em fazer leis que os beneficiem. Apenas isso. Cortam verba da educação mas não cortam os gastos extremos que vemos no Congresso. São verbas indenizatórias para todo lado, aumentos de tempos em tempos, assistentes, cargos comissionados, 39 ministérios, e agora um prédio novo que abrigará um shopping. O estranho que para isso há verba. 

Não há verba para educação, para nossas crianças. Mas há para construir um shopping no Congresso e para verba de gabinete.


Estamos perdendo o controle. O pouco controle que ainda temos. E continuando assim eu não consigo ver algo diferente do que vemos nos filmes com temática pós-apocalíptica. Tenho medo de nos tornarmos uma Gotham City sem um herói para defender. Hoje já estamos presos dentro de nossas casas, nossos condomínios e apartamentos. Cada dia mais temos pouco contato pessoal. Chegará um dia que não sairemos mais de casa, não será mais possível ir ao mercado em paz. Trabalhar será praticamente impossível. E um país que tinha tudo para ser um dos grandes se tornará um lugar inóspito, um lugar esquecido, e afastado do resto do mundo. É uma previsão sombria, eu sei. Mas se continuar como está, não vejo outro destino para nós.

Mas eu espero que volte o dia que as crianças sejam apenas crianças. Nada mais que isso.

Há algo mais mágico que ser criança? Acredito que não.