quarta-feira, 5 de março de 2014

O dilema da criação.

Se tem algo complicado nos dias de hoje, é criar um filho.
Dois? Loucura. 
Três? Insanidade.
Acima disso? Putz !!!
OK, você pode me achar meio radical, mas é algo que eu vejo e sinto. Ai olho para trás e vejo que meus pais tiveram três. Meus avós tiveram mais de quatro. E fico pensando: como?
Será que que se fosse nos dias de hoje eles teriam a mesma quantidade?

Anos atrás o pai era quem sustentava a família. Apenas ele bastava. Havia certo conforto, com certo aperto, mas tinha. Era o necessário. Nada mais que isso. Luxos era quase impossível. Lazer era muito raro. Aquele presente tão desejado de Natal? Nem todo ano. Hoje temos mais condições, a tecnologia está ai, mas apenas uma pessoa sustentando a casa é possível ter conforto? Vemos muita oferta, produtos pipocam na tevê e nas mãos de outras crianças. E as nossas ficam sem? Passando vontade? Ai lembramos de tudo que fomos privados no passado e pensamos: "Não, aqui vai ser diferente, se eu tiver como ele vai ter". 

Mas a que custo? Acordamos cedo, deixamos os filhos na escola, passamos oito, nove, dez horas no trabalho. Quando voltamos para nossos filhos muitas vezes não conseguimos nem vê-los pois já estão dormindo. O tempo que nos resta com eles é muito pouco. Das vinte e quatro horas ficamos duas, três horas com eles? Nessas duas ou três horas tentamos fazer o possível. Brincar, ver desenho, comprar alguma bobagem. Nos finais de semana não dá para ficar em casa, eles querem passear, querem brincar. E ai? Como fica? 

Será que assim eles crescem mimados? Não reconhecem o valor das coisas? Eu acredito que não. Mas muitos pensam assim. "No meu tempo não tinha nada disso", "Nossa, vai deixar ele fazer isso", "Ah, em outras épocas umas chineladas resolvia" e por ai vai. Até concordo em algumas partes, em 'outras épocas'. Mas hoje a coisa é diferente. Acredito que criticar é bem mais fácil que ajudar. Muito fácil falar como fazer e o que fazer depois que já foi feito. Quando aprendemos a criar nossos filhos, eles já estão criados. E ai não tem muito o que fazer. Críticas não são todas ruins, não mesmo. Delas podemos tirar cosias boas. Mas criticar de maneira infundada é complicada. Criticar algo e fazer algo contrário também é complicado.  Não ter tempo para um cinema, para um barzinho, para uma leitura, e ainda ouvir críticas é complicado. Uma ajuda muitas vezes é muito mais importante uma ajuda do que uma crítica. 

Outra coisa que pesa na criação dos filhos é a dependência que temos de outras pessoas. Não existe mais aquela coisa de entrar às 8h00 e sair às 17h00. Muitas vezes você entra às 8h00 e não tem horas para sair. E como ficam seus filhos? Depois de entrar na escola às 7h00 como fica? Depender de alguém para ir buscar, para ficar na casa, para esperar que os pais cheguem. Será que alguém acha que isso é realmente legal? Será que alguém acha que os pais fazem isso porque querem? Será que acham que fariam isso se tivessem a opção 'B'? Acho que não. 

Acredito que hoje visamos mais o conforto e o bem-estar futuro de nossos filhos. Ter um futuro que não tivemos, estudar o que não estudamos, fazer o que não fizemos, viajar para onde não viajamos, ter o que não tivemos. Acho que o intuito é esse. Mas e o relacionamento? E o carinho? E a cumplicidade? Para onde vai tudo isso? Acontece de uma criança crescer e achar que não teve a atenção que deveria, nisso alguns pais acabam se culpando, ai a coisa descamba. Pode aparecer alguma revolta, e os pais podem não saber como agir. E a coisa vai complicando. 

É um dilema. Como tantos outros na vida. Não temos o direito de errar.

Quem me pergunta como é ter filhos eu sou sincero: é foda. Muito foda. Às vezes você vai ter vontade de sair correndo, de largar tudo, sair berrando e arrancando os cabelos, algumas vezes você vai torcer para ficar em casa e dormir ao invés de sair para qualquer lugar que seja. 

Mas uma coisa é fato: você só vai pensar naquela pessoinha, tudo que você fizer será pensando nela, você não medirá esforços para fazer o possível para aquela pessoinha ficar bem. Você se anula. Só existe ela agora. Sua vida é ela. 

Nada mais importa. 

E isso é algo maravilhoso.

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